No centro da cultural cidade do Mindelo, encontra-se o Jazzy Bird, um espaço que vai além de um simples bar pub. Com uma atmosfera acolhedora, o local destaca-se pela "convivência", pela exaltação da cultura e da noite cabo-verdiana, complementada por uma decoração colorida, envolvente e convidativa.
O proprietário e gerente do Jazzy Bird, Vou Monteiro, é a alma do espaço. No dia em que conversámos com ele, um quarteto formado por Bau, Djoyss, Ivan Moreira e Vady Dias animava a noite. Foi na altura do Carnaval, mas ter sido em qualquer altura do ano porque o espaço preserva a sua essência ao longo do ano.
Antes da chegada do público, Vou Monteiro mostrava-se atento e inquieto com a organização dos equipamentos musicais. "Tenho de garantir que tudo corra bem", diz, enquanto supervisiona os últimos detalhes. Assim que a noite avança, a esplanada enche-se num piscar de olhos. Posicionado estrategicamente entre os músicos e o público, numa cadeira encostada à parede, ele garante assistência aos artistas, apreciar a boa música e acolhe cada visitante com um olhar e um sorriso caloroso, transmitindo uma energia positiva contagiante. "O ambiente aqui é tão bom que os músicos, depois das atuações, ficam para conviver. Esse espírito encaixa-se na essência cultural do Mindelo", destaca.
O conceito do Jazzy Bird surgiu de forma espontânea, impulsionado pelo amor de Vou Monteiro à música, especialmente ao jazz. O nome do espaço e a personalidade do seu fundador acabaram por se tornar indissociáveis. Nos primeiros anos, o público referia-se ao local como "a casa do Vou", dando ao proprietário mais notoriedade do que ao próprio estabelecimento.
Localizado num edifício no coração da cidade, o Jazzy Bird celebrou 28 anos de existência a 27 de fevereiro de 2025. "O que nos diferenciava, na época...e ainda, é a convivência", relembra Vou Monteiro. "Havia botequins onde as pessoas iam apenas beber e saíam, mas o Jazzy Bird, desde da sua abertura, tornou-se um ponto de encontro. Quando abrimos, antigas discotecas Syrius e Pimps estavam na moda, e muitas pessoas ficavam aqui a ouvir boa música e a conviver antes de seguirem para lá, por volta das 2 ou 3 da madrugada."
A ligação de Vou Monteiro ao setor vem de família. "A minha mãe já tinha um bar, localizado num outro local, mas com um conceito mais comercial. Quando fechou, pediu-me para continuar, mas eu queria criar algo diferente. Acabei por ficar, essencialmente, com a arca frigorifica, para abrir um espaço a minha maneira na casa que era da minha avó", explica. Foi então que, com a ajuda do amigo Alexandre "Xazé" Novais, na altura, estudante de arquitetura na Bélgica, que vinha de férias, deu ao espaço uma identidade artística única.
Outros colaboradores, como o artista plástico Nilde, contribuíram para a estética do local, incluindo a icónica pintura da fachada, que reflete o espírito de convivência, música e hospitalidade do Jazzy Bird.
A programação musical tornou-se um dos grandes atrativos do Jazzy Bird. A pedido dos clientes, diz Vou Monteiro, há música ao vivo de segunda a sábado, encerra aos domingos. De segunda a quarta-feira, um dos destaques é Chico Serra, ex-membro da banda Voz de Cabo Verde e pianista versátil que encanta quem sobe ao palco para cantar com ele. Já de quinta-feira a sábado, os trios e quartetos dominam o espaço.
A influência do Jazzy Bird na cena musical do Mindelo é evidente. "Com o tempo, a ilha ficou, praticamente, sem bandas, e convido músicos para tocarem juntos, acabam por formar "bandas" aqui no palco do Jazzy", conta Vou Monteiro. No repertório, o jazz e suas fusões dividem espaço com o reggae enquanto música ambiente e a música ao vivo, toca-se a tradicional cabo-verdiana.
Foi nesse ambiente que nasceu a ideia do Mindel Summer Jazz, festival que se tornou um marco na agenda cultural do Mindelo e de Cabo Verde. Vou Monteiro, um dos fundadores, juntamente com o Alexandre "Xazé" Novais, recorda que no inicio, em conversa com o músico Hernâni Almeida. "Desafiei-o para assumir a produção musical do festival", diz. A primeira edição decorreu no espaço cultural Manuel d’Novas Café, em homenagem ao seu falecido proprietário. O sucesso foi imediato, levando a organização a continuar o projeto.
As edições seguintes realizaram-se na Réplica da Torre de Belém. Em 2015, para a 4ª edição, "após uma reunião com o presidente da Câmara Municipal de São Vicente, o festival começou a trazer artistas internacionais" diz Vou Monteiro. Entre os nomes da 4ª edição estão Manou Gallo (Costa do Marfim), Jowee Omicil (Haiti) e a banda holandesa Music Machine, além de músicos cabo-verdianos como Vasco Martins, Bau, Jenifer Solidade e Hernâni Almeida. A partir da 8ª edição, o festival acontece na Praça do Liceu Gil Eanes "Praçinha de Liceu Bedje" e já soma 13 edições.
O Jazzy Bird também serviu de berço para talentos locais. Entre 1999 e 2001, havia um quarteto de jovens promissores – Khaly Angel, Ivan Medina, Bruno Lima e Kisó Oliveira – tocavam regularmente no espaço. Hoje, o grupo Pret & Bronk, composto por esses jovens talentosos é presença assídua no Mindel Summer Jazz.
Assim, o Jazzy Bird segue como um ponto de encontro essencial no Mindelo, frequentado por residentes e turistas, mantendo viva a chama da música, da cultura cabo-verdiana, da "convivência" e good vibe.
DB