Brada ou Virada - uma tradição vincada em São Nicolau
Segundo investigador cultural José Cabral a tradição "Brada" ou "Virada" vem de há séculos, em que os portugueses passavam pelas ilhas de Cabo Verde e largavam animais para criação e depois voltavam para fazer abate, salga e seca de animais, para levar nos barcos. Esta manifestação, ao que parece, continua nas ilha de São Nicolau, Boa Vista e Maio.
Hoje "Brada" acontece, geralmente, em cada 15 dias, na região norte do concelho de Tarrafal, em que os donos dos animais e pastores, com o nascer do sol, iniciam a "virada" dos animais (carneiros ou cabras) dos montes para o curral. Daí o nome "Virada" que no variante do crioulo de São Nicolau significa "Brada". Desta vez fomos acompanhar "Brada" de carneiros. O percurso para a "virada" dos animais acontece em lindas da textura árida do terreno da planície da paisagens entre a montanha e o mar.
No curral existe "o Chefe Curral" que zela pelo cumprimento das regras, como por exemplo, para retirar um animal do curral, o dono tem de provar que marca/identificação na orelha do animal, lhe pertence. É o "Chefe Cural" que decide na resolução de casos litigiosos dentro do curral.
Os donos fazem marcas personalizadas nas orelhas animais. Assim ao juntar dezenas de animais no curral, permite identificar os seus animais.
Interessante é a forma como os donos identificam as crias nascidas nas zonas de pastagem. É que as ovelhas apenas amamentam as suas crias e rejeitam amamentar as outras crias. O que permite aos donos identificar e marcar as crias.
A volta do Curral junta os donos dos animais, pessoas interessados na compra de animais e também a população.
Ao fim do período da manhã os animais são direcionados novamente para as zonas pastagem nos planícies e montes da região.
José Cabral, que também participa no "Brada" como dono de alguns carneiros, acredita que esta tradição tem tudo para ser um produto turístico, e que aliás já acontece nas Canárias em que turistas inscrevem e pagam para ir ver o "Brada", onde acompanham todo o ritual e termina com os negócios a volta da manifestação com venda de produtos de marketing e gastronomia.