A Rua da Tabanka, na zona do Brasil, bairro de Achada Santo António, é nestes dias o ponto de encontro dos amantes da cultura, em especial da tabanka. O ambiente é de festa: muita animação, cor, refeições ao som dos tambores e búzios, e atuações musicais a noite.
Por volta das 13 horas, um foguete artesanal anuncia que o almoço está pronto a ser servido, e rapidamente a rua se enche de gente. Moradores do bairro, convidados dos juízes da tabanka, funcionários de empresas próximas… E, nos últimos anos, alguns operadores turísticos começaram a incluir este ponto nos seus roteiros pela cidade da Praia. Ainda que de forma tímida, já se avistam turistas estrangeiros no meio da multidão. Ah, e claro, também há políticos - afinal, onde há povo, há políticos.
Mais do que desfile, música e dança, a tabanka sempre teve um papel de solidariedade, de apoio social e de ajuda às pessoas com menos recursos. Essa dimensão comunitária continua viva. A tabanka, manifestação cultural, que remonta ao século XVIII. Na época, os escravos aproveitavam os dias de folga para criar manifestações que satirizavam a monarquia. Daí a presença, nos desfiles, de personagens como reis, rainhas, princesas, damas da corte, marinheiros, soldados e ladrões. Celebrada nas ilhas de Santiago e Maio, a Tabanka foi oficialmente classificada como Património Cultural Imaterial Nacional em agosto de 2019.
Fomos à Rua da Tabanka antes da hora do almoço para apreciar o vaivém dos festeiros, o movimento intenso das cozinheiras entre as panelonas dispostas em fila indiana à frente da Kasa da Tabanka, e a fé visível nas pessoas que veneram a imagem do santo padroeiro. Zé Pitadinha, um dos elementos da organização e responsável por toda a logística dos almoços na rua, está por todo lado, omnipresente, sempre pronto para ajudar e resolver qualquer imprevisto. Outro rosto carismático é Toresma, pescador e antigo jogador federado de futebol, que já representou grandes equipas da Praia. Na tabanka, destacou-se como tamboreiro e soprador de búzios. Ambos entregam de corpo e alma no Tabanka Txada Santantoni, mas também marcam presença com paixão nos outros grupos da cidade - na Várzea da Companhia e na Achada Grande Frente.
As festividades começaram a 3 de junho e prolongam-se até o dia 13, Dia de Santo António, um dos santos mais populares de Cabo Verde. O bairro de Achada Santo António, um dos mais populosos do país, acolhe o grupo Tabanka Txada Santantoni, um dos três da cidade da Praia, com uma longa tradição na celebração da tabanka.
A grande festa de Santo António culmina com o tradicional desfile da Tabanka pelas ruas da cidade, com passagem obrigatória pelo Plateau — zona outrora proibida pelas autoridades coloniais. Este desfile não tem data fixa, mas costuma ocorrer entre 15 a 20 dias após o dia do santo, depois dos rituais do "salva" na capela, do "roubo do santo" e da sua devolução ao local de origem.
DB